UESB: Mulheres assumem papel de destaque na docência

Numa espécie de trânsito do invisível para a visibilidade, as mulheres que viveram entre os séculos 19 e 20 se viram ocupando um espaço diferente do que lhes era imposto pela cultura patriarcal vigente: as salasde aula, como professoras e alunas. Entretanto, a presença da mulher na educação permanecia atrelada não ao seu aperfeiçoamento ou satisfação, mas ao cultivo do que era considerado o comportamento ideal às mulheres diante da sociedade e do lar, o que legitimava a exclusão de mulheres em outros níveis de ensino.

Na contramão desse método, a educadora Nísia Floresta Augusta, considerada uma das pioneiras do Feminismo no Brasil, funda, no Rio de Janeiro, ainda no século 18, a primeira escola para meninas que, ao invés de privilegiar o ensino doméstico, se concentrava no ensino de ciências exatas, naturais, gramática e artes. A partir daí, e com o advento da República, os movimentos feministas no Brasil ganham fôlego e assumem diversas pautas.

Já no fim do século 20, com o aumento da escolarização feminina e com a redemocratização do país, os objetivos dos movimentos feministas vão se adaptando à dinâmica da sociedade. Nesse contexto, a presença de mulheres em outros níveis acadêmicos, lecionando pautas voltadas a elas, se torna ainda mais frequente. É o caso da professora Carmen Carvalho, que atua no curso de Jornalismo da Uesb.

“Entrei em 2003 na Uesb e, de lá para cá, percebi que da mesma maneira que o movimento feminista no Brasil passou a ganhar mais força e se popularizar, especialmente pela luta dos movimentos sociais e pela disseminação de conteúdo a respeito do tema, essas discussões se tornaram mais presentes na universidade que, como uma parte da sociedade, também reproduz o machismo. No entanto, o machismo tem sido mais percebido e debatido do que há 15 anos. Vejo professoras e alunas, ainda que em número reduzido, muito mais conscientes dos seus direitos como mulheres e mobilizadas tentando provocar uma mudança”, destaca a docente.

Carmen afirma que, como professora, se posiciona como feminista e traz para as aulas assuntos referentes às lutas cotidianas das mulheres. “A partir dessa construção minha, como mulher feminista e professora, que também percebi o quanto os estudantes do sexo masculino me interrompiam e até me contestavam em sala de aula, diferentemente das estudantes do sexo feminino. Perceber isso e levar para a sala de aula foi um aprendizado para todos os envolvidos”, conta.

Ampliação do debate – Como forma de ampliar as discussões sobre a mulher, surgiu, em 2017, na disciplina “Jornalismo Digital”, ministrada pela professora Carmen, a editoria Maria Maria, que nasceu junto ao site Avoador, produto laboratorial da disciplina. Segundo a docente, a editoria foi criada a partir de uma perspectiva feminista, com a proposta de discutir temáticas relacionadas às mulheres, que não são notícia na mídia tradicional local.

Duas reportagens da editoria fizeram história pela sua repercussão. De acordo com a docente, a primeira falou sobre violência obstétrica na cidade e contou histórias de mulheres que passaram por essa situação. A reportagem gerou muitos compartilhamentos nas redes sociais. A segunda destacou o constrangimento gerado por uma foto polêmica com mulheres penduradas, publicada por um bar da cidade, em uma rede social. A matéria gerou não só uma grande quantidade de acessos, como também ações da OAB local e falas na Câmara Municipal.

Desconstrução de tabus – Temas como a sexualidade feminina seguem como tabu diante do machismo estrutural presente na sociedade. Com o intuito de romper essas barreiras, a professora Gabriele Marisco, do curso de Biologia da Uesb, desenvolve projetos com enfoque em educação em saúde. Um deles tem como tema o papilomavírus humano (HPV), vírus relacionado ao desenvolvimento de câncer do colo do útero, principalmente em mulheres jovens.

“Esses projetos sobre educação em saúde visam abordar temas atuais que, às vezes, geram desconforto ou insegurança de serem abordados pelo corpo docente. Vale ressaltar que todas as atividades são organizadas pensando na idade do público que precisa ser atendido, usando formas de abordagens e metodologias apropriadas”, explica Gabriele.

A docente conta ainda que a ideia dos projetos surgiu a partir da observação da demanda de conscientização sobre o tema. “Cabe a mim, como  professora, além de me preocupar com a transmissão do conhecimento, usar metodologias que favoreçam a compreensão, me atentando sempre às realidades dos alunos”, finaliza.

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