PT mobiliza influenciadores para impulsionar ‘campanha taxação BBB’, mas especialistas questionam impacto

O Partido dos Trabalhadores (PT) iniciou uma nova ofensiva nas redes sociais com o objetivo de fortalecer a campanha em favor da taxação de bilionários, bancos e empresas de apostas, apelidada de “Taxação BBB”.

Em uma reunião virtual realizada nesta quarta-feira (2), com apoio do Palácio do Planalto, a legenda reuniu cerca de 270 influenciadores digitais e apoiadores para apresentar a nova estratégia de comunicação que será conduzida pelo marqueteiro Otávio Antunes.

Segundo a coordenação do encontro, a ação busca ampliar o alcance do discurso governista diante das recentes derrotas do governo no Congresso, como a derrubada do aumento no IOF.

A reunião contou com a presença do secretário nacional de Comunicação do PT, deputado Jilmar Tatto (SP), do presidente do partido, senador Humberto Costa (PE), e do advogado Marco Aurélio de Carvalho, do grupo Prerrogativas.

Dividida em etapas, a estratégia pretende, inicialmente, focar na construção de uma narrativa baseada na ideia de justiça social, contrapondo benefícios sociais como o Bolsa Família a isenções fiscais concedidas a setores específicos. Em um segundo momento, a proposta é apresentar comparações objetivas que ajudem a popularizar a mensagem entre os eleitores.

Durante o encontro, Marco Aurélio de Carvalho destacou a necessidade de cautela jurídica por parte dos influenciadores, orientando-os a evitar acusações que possam levar a processos judiciais. Ele também sugeriu a criação de uma equipe de apoio legal aos comunicadores, com o intuito de esclarecer dúvidas relacionadas às publicações nas redes.

A convocação do grupo foi vista como uma tentativa de reorganizar o discurso progressista, até então centrado na defesa da democracia e no enfrentamento ao bolsonarismo.

Para o PT, a insatisfação com as decisões do Congresso reacendeu a pauta contra privilégios e concentração de renda, o que pode reaproximar a militância e ampliar o engajamento digital em torno do governo Lula.

A nova campanha, no entanto, tem sido alvo de críticas. Participantes da reunião questionaram a condução do evento e a efetividade da comunicação proposta, afirmando que o conteúdo ainda não consegue dialogar com públicos mais amplos. “O trabalhador comum não entende os pontos. Falta clareza nos comparativos”, disse um dos presentes.

Do ponto de vista técnico, especialistas em comunicação política avaliam que a estratégia pode ter impacto limitado fora das bolhas digitais.

Renato Dorgan, cientista político, argumenta que a narrativa de luta de classes tem pouco apelo no atual contexto social. “A realidade se impõe ao discurso. O custo de vida subiu, e a população quer respostas práticas”, avalia.

Já o estrategista Felipe Soutello, que coordenou a campanha de Simone Tebet em 2022, vê potencial no tema da justiça fiscal, mas aponta falhas na execução.

Para ele, o governo ganharia mais apoio se articulasse a proposta com medidas de corte de gastos e maior proximidade com o eleitor médio. “Só performance digital não gera empatia. Falta trazer pessoas reais para contar histórias reais”, critica.

Apesar das divergências, a campanha avança. Materiais digitais já estão em produção e a Frente Povo Sem Medo, ligada ao deputado Guilherme Boulos (PSOL), convocou manifestação para o próximo dia 10 de julho em São Paulo, com foco na taxação dos super-ricos e no fim da jornada 6×1.

A mobilização, que mira a reorganização do campo progressista com vistas às eleições de 2026, surge em meio a um cenário político de forte polarização e incertezas sobre a capacidade do governo de recuperar protagonismo nas redes sociais.

Fonte: Voz da Bahia

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