Facção PCC se infiltra em presídios e já está presente em 28 países, aponta MP de SP

A facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), originada no sistema prisional paulista, já se expandiu para pelo menos 28 países e tem usado presídios no exterior como estratégia para recrutar novos membros e ampliar seus negócios ilícitos, como tráfico de drogas, armas e lavagem de dinheiro. As informações constam em um relatório inédito do Ministério Público de São Paulo (MPSP), obtido pela GloboNews e pelo g1.

O documento, que está sendo apresentado a embaixadas e consulados no exterior, busca fomentar cooperação internacional no enfrentamento ao crime organizado transnacional, que hoje atinge quatro continentes.

Além da presença temporária para operações pontuais, o que tem preocupado autoridades é o movimento de fixação permanente de integrantes da facção em outros países. Essa estratégia inclui, segundo os investigadores, a infiltração em presídios estrangeiros — marca registrada do PCC desde sua fundação em 1993, na Casa de Custódia de Taubaté, interior de São Paulo.

“O maior perigo do PCC é a sua origem prisional, onde eles têm poder de organização e de ideologia, uma disciplina muito rígida que se dissemina facilmente. Esse é o risco para os países europeus”, alerta o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, especialista no combate à facção.

Estrutura e expansão

A expansão do PCC é coordenada por membros das chamadas “Sintonia dos Estados” e “Sintonia dos Países”, setores internos da facção responsáveis pelo monitoramento das operações fora de São Paulo e do Brasil. A investigação reuniu informações por meio de interceptações telefônicas e telemáticas, além de cooperação com autoridades estrangeiras.

Segundo a pesquisadora Camila Nunes Dias, da Universidade Federal do ABC (UFABC), a atuação do PCC varia conforme o país. Em alguns casos, a passagem dos criminosos é apenas para negócios, sem estrutura fixa. Mas, em locais onde há interesse de controle territorial, o grupo passa a realizar recrutamentos e batizar novos membros, inclusive nativos.

“Quando há fixação, há uma estrutura, uma organização local. Isso implica maior risco, inclusive de violência”, explica Camila.

Países com atuação confirmada do PCC (ordem alfabética)

  • Alemanha
  • Argentina
  • Bélgica
  • Bolívia
  • Chile
  • Colômbia
  • Equador
  • Espanha
  • Estados Unidos
  • França
  • Guiana
  • Guiana Francesa
  • Holanda
  • Inglaterra
  • Irlanda
  • Itália
  • Japão
  • Líbano
  • México
  • Paraguai
  • Peru
  • Portugal
  • Sérvia
  • Suíça
  • Suriname
  • Turquia
  • Uruguai
  • Venezuela

A maior concentração de integrantes do PCC ainda se dá na América do Sul, principalmente em Paraguai, Bolívia, Uruguai e Venezuela — regiões com fronteiras extensas com o Brasil e relevância estratégica para o tráfico de cocaína com destino à Europa.

Presídios e violência nas fronteiras

A infiltração da facção em cadeias estrangeiras também tem gerado aumento da violência. Um dos exemplos mais alarmantes foi em 2019, no Paraguai, quando uma rebelião na penitenciária de San Pedro, liderada pelo PCC, deixou 10 mortos e 12 feridos.

“O ambiente prisional é o solo fértil para o crescimento do PCC. Onde eles conseguem entrar nas cadeias, conseguem se enraizar e se fortalecer”, destaca a pesquisadora Camila Nunes.

Faturamento bilionário e estrutura nacional

Criado por menos de 10 presos após o Massacre do Carandiru (1992), o PCC hoje tem quase 40 mil integrantes e movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano, conforme estimativas do Ministério Público de São Paulo. A facção está presente em presídios de 24 estados brasileiros, com exceção de Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, segundo a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).

Fonte: Voz da Bahia

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