Com Bolsonaro inelegível, direita se divide e aposta em novos nomes para 2026

Com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível até 2030 e réu por tentativa de golpe de Estado, a direita brasileira vive um impasse na corrida presidencial de 2026. Apesar da sua condição jurídica, Bolsonaro insiste em dizer que será candidato, o que tem travado as articulações para a escolha de um novo nome no campo conservador.
O cenário é de fragmentação. Mais de meia dúzia de possíveis candidatos surgem como alternativas para enfrentar o presidente Lula (PT), mas a chance de uma união da direita no primeiro turno é considerada pequena por especialistas.
Segundo relatório da consultoria Dharma, o mais provável é que a direita lance várias can+-didaturas já em 2026. A estratégia permiti ria que cada partido ampliasse sua presença no Congresso, maximizando o uso de recursos do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral.
Para o cientista político Creomar de Souza, CEO da Dharma, o maior entrave para a definição de uma candidatura única vem dos partidos do Centrão. “Eles evitam se comprometer com um nome à Presidência, mas atuam fortemente para garantir espaço no Legislativo”, analisa.
Olhar para o futuro: 2030 já está no radar
Outro fator por trás da divisão é o olho no futuro. Muitos nomes se lançam não apenas pensando em 2026, mas já mirando a sucessão de 2030, quando Lula e Bolsonaro provavelmente estarão fora da disputa. O atual presidente terá 81 anos em 2026. Já Bolsonaro, com 70, enfrenta risco de prisão e segue barrado pela Justiça Eleitoral.
Nomes como Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), Romeu Zema (MG), Eduardo Leite (RS), Ratinho Júnior (PR), Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) são apontados como potenciais candidatos. A eleição de 2026, segundo analistas, pode marcar o fim de uma era e o início de uma renovação política.
“Ao longo de 40 anos, o Brasil foi governado por líderes da mesma geração. Está na hora de novas lideranças assumirem esse protagonismo”, declarou Ratinho Júnior, um dos pré-candidatos cotados, durante evento do agronegócio.
Aposta no desgaste de Lula
Apesar da força de Lula no cenário político, parte da direita acredita que o momento é favorável para enfrentar o petista. Pesquisa Genial/Quaest aponta que 57% da população desaprova o atual governo federal, e esse dado anima os adversários.
“Existe a leitura, entre os opositores, de que Lula está fragilizado. Isso tem incentivado várias pré-candidaturas, mesmo sem consenso dentro das legendas”, diz Creomar.
Governadores que não poderão se reeleger, como Caiado e Zema, têm pressa: já nacionalizam seus nomes para ganhar visibilidade. Caiado, inclusive, lançou sua pré-campanha mais cedo que os demais.
Tarcísio e Michelle: a dupla dos sonhos da direita?
Para a antropóloga Isabela Kalil, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), o governador Tarcísio de Freitas seria o nome ideal para unir o campo conservador. “Se vier com alguém da família Bolsonaro, como Michelle, a chance de união no primeiro turno é real”, avalia.
Bolsonaro, por sua vez, já sinalizou apoio a uma chapa com Tarcísio presidente e Michelle vice. A proposta agrada parte do eleitorado mais fiel ao ex-presidente, que ainda exerce grande influência política — principalmente no segmento evangélico e nas redes sociais.
Mesmo fora da disputa, Bolsonaro deve continuar como figura central nas eleições de 2026. Segundo Kalil, ele tem mais capacidade de transferir votos do que Lula. “Não subestimem os Bolsonaros. A força do sobrenome ainda vai pesar nas urnas”, conclui.
Voz da Bahia