UESB: “Em que cidade você se encaixa?”

Ao traçar uma linha divisória em sua própria cidade, em que espaço econômico e social você está inserido? A questão trazida pela banda Baiana System nos versos da música “Duas Cidades” faz alusão à divisão de Salvador em cidade alta e cidade baixa, mas é possível perceber a segmentação mesmo nos municípios do interior.

É com a proposta de analisar essa realidade na cidade de Caetité, que o mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia, Roberval Santos, está desenvolvendo a pesquisa “Cidades e muros: discurso da insegurança e do medo à produção de espaços exclusivos”.

De acordo com ele, o estudo surgiu de inquietações e observações do município, que impõe limites socioespaciais à população, revelando características já conhecidas do processo de produção capitalista do espaço urbano, especialmente, em cidades médias. Nesse sentido, ele destaca o processo de verticalização e a concentração da riqueza em lugares específicos das cidades.

No caso de Caetité, foi possível observar a dicotomia entre as regiões norte e sul do município. Enquanto na região norte (bairros Ovídio Teixeira, Prisco Viana e Nossa Senhora da Paz), as casas apresentam acabamentos pobres e as ruas são esburacadas, sem pavimentação, esgotamento e saneamento, na região sul, o cenário é diferente. São espaços marcados por projetos arquitetônicos sofisticados e onde se percebe a utilização de equipamentos tecnológicos ligados à segurança e proteção.

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Impacto social da divisão espacial –  Essas profundas diferenças espaciais expressam fenômenos do processo de segregação social. “A maior parte da população que mora no setor norte exerce trabalho informal, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2010”, comenta o mestrando. Já a região sul é predominantemente habitada por uma população com altos rendimentos.

Segundo o pesquisador, a principal estratégia utilizada pelos produtores dos “espaços exclusivos”, e presente no discurso dos próprios moradores, são as condições de segurança e tranquilidade. No entanto, “a pesquisa demonstrou que os índices de violência urbana utilizados como pretexto para a insegurança em Caetité são baixíssimos”.

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O mestrando pondera ainda outra forma de interpretação: “a difusão do medo, do caos e da desordem serviu sempre para deflagrar estratégias de disciplinamento e controle de massas empobrecidas”. Para ele, é possível observar que “o discurso da insegurança e do medo não ficam presos no imaginário dos sujeitos, eles se materializam em formas e em conteúdos ligados, principalmente, à produção social do espaço”.

Alcance da pesquisa – Para o orientador da pesquisa, professor Mário Rubem, a iniciativa contribui para a compreensão da dinâmica capitalista. Ele explica que esta, ao se apropriar dos discursos de qualidade de vida, associando a eles a ideia de segurança ou violência, contribui para a segregação e traz consequências como a especulação imobiliária.

“Mesmo considerando que o estudo é aplicado a uma realidade urbana do interior da Bahia, pode-se dizer que os processos de produção do espaço urbano dentro do capitalismo tem uma atuação mais homogênea, que pode ser vista como algo a ser aplicado a qualquer realidade”, conclui.

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