Coletivo aponta que só há 2% de professores negros na UFBa

Enegrecer, para o Coletivo Luiza Bairros, vai além de tornar negro, como indica o dicionário – significa uma alternativa para que mais pessoas negras ocupem o corpo docente, o referencial teórico, quadro de funcionários e de alunos, a fim de combater o racismo institucional na Universidade Federal da Bahia (Ufba). A Bahia está no 2º lugar no ranking nacional, com 76,3% dos cidadãos autodeclarados pretos e pardos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013. No entanto, isto não está refletido, por exemplo, no corpo docente da principal universidade do estado: levantamento do Coletivo indica que só há 2% de negros entre os três mil professores da instituição.

Desde a fundação

Segundo a docente Denise Carrascosa, do Instituto de Letras, “o racismo institucional está na universidade desde a fundação, em 1956, e estrutura toda a instituição, na medida em que a base é construída de uma forma etnicorracial visível”. Ela descreve: “No topo, homens brancos de classe média; no corpo docente, mais de 90% de professores (as) brancos (as); entre técnicos e técnicas administrativos existe um híbrido; e ,na base, servidores terceirizados que trabalham de maneira vulnerável, a maioria de mulheres negras pobres”. Ela ressalta que o contingente de alunos vem enegrecendo pelas cotas, desde 2005, mas que “a pirâmide mostra o racismo institucional, que reflete essa estrutura”. E o Coletivo surge justamente para combater a situação, ela situa. Tatiana Emília Gomes representa uma exceção no corpo docente da Faculdade de Direito, quando, em 2016, fez concurso e tornou-se a primeira professora negra do curso. Tatiana se uniu aos colegas para que mais homens e mulheres negras tenham a mesma “Nosso principal enfrentamento é a ampliação da quantidade física de pessoas negras no corpo docente da Ufba, pois de certa forma colabora para o enfrentamento do racismo institucional e coopera para acolher estudantes negros e negras que estão podendo acessar a universidade”, diz Tatiana. Para ela, os estudantes se sentem bem ao serem liderados por semelhantes: “Eles se sentem representados, acolhidos. Recebo várias mensagens de apoio dos alunos, dizendo que a partir de agora podem dialogar com alguém”.

Aluna

A máxima de que representatividade importa rege a trajetória acadêmica da estudante Lilaise dos Santos, 27. Aluna do 10º semestre da faculdade de Direito da Ufba, ela observa que, além de haver um número mínimo de representação negra no corpo docente, a “prática perversa” se reflete na metodologia e bibliografia do curso. “Ao longo dos semestres só contei uns seis professores negros. O espaço é eurocêntrico. Nós só conseguimos construir a faculdade a partir de teorias norte-americanas e europeias”, diz, acrescentando que, “com esta prática, não há valorização dos conhecimentos produzidos no Brasil, Ásia e África, por exemplo”. Maria Dolores Sonsi Rodrigues é mestra e faz doutorado no programa de Literatura e Cultura da instituição. O primeiro programa a garantir a reserva de vagas no processo para distribuição das bolsas. “O coletivo tenta possibilitar que esse caminho seja aberto. A ausência de professores negros na instituição também influencia na maneira como os alunos estão sendo formados, nos currículos e formas de avaliação”, argumenta a mestranda. (A Tarde)

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